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O que é "Rhetorica Ornamentorum ex Referentiis Latinis"?

1. Considerações Introdutórias

A "Rhetorica Ornamentorum", também conhecida como "Retórica dos Ornamentos" ou "Ornamentos da Retórica", é um campo de estudo da retórica que se concentra no uso de figuras de linguagem e outros elementos estilísticos para embelezar e estofar a retórica do discurso. Este campo é particularmente associado à tradição clássica latina, onde os oradores e escritores romanos desenvolveram e aperfeiçoaram uma ampla gama de técnicas para aprimorar a persuasão e o apelo estético de suas obras. NESTE TÓPICO, para além de entender as raízes originárias da modalidade, a pretensão da presente coluna é entender como os referentes latinos podem serem aplicados para encapsular descrições objetivas referente à figuração das táticas de ardis utilizadas para persuadir o observador à tomar condutas adversas à própria vontade pessoal.

2. Considerações Conceituais

A expressão "Rhetorica Ornamentorum" pode ser traduzida como "Ornamentos da Retórica". Essa tradução é bastante fiel ao conceito original e captura a essência do que essa expressão latina significa. Os ornamentos da retórica referem-se aos diversos artifícios e figuras de linguagem utilizados para enriquecer e embelezar o discurso, tornando-o mais persuasivo, expressivo e impactante. Tais artifícios são elementos estilísticos que não apenas embelezam a comunicação, mas também aumentam a sua eficácia. Estes ornamentos incluem uma variedade de figuras de linguagem, como metáforas, hipérboles, anáforas, entre outras, que ajudam a enfatizar ideias, criar imagens mentais vívidas e provocar emoções no público.

3. Contextualização Histórica

Na antiguidade, os romanos, seguindo a tradição grega, desenvolveram uma rica tradição retórica onde o uso de ornamentos era considerado essencial para a eficácia do discurso. Autores como Cícero e Quintiliano foram mestres na arte de usar esses ornamentos para persuadir e encantar o público. A ideia era que a forma do discurso era tão importante quanto o seu conteúdo, e que um bom orador deveria ser capaz de usar a linguagem de maneira criativa para cativar sua audiência.

A retórica clássica, especialmente a latina, valorizava grandemente o uso de ornamentação no discurso. Os romanos, seguindo a tradição grega, acreditavam que a eficácia do discurso dependia não apenas do conteúdo lógico e da organização, mas também do estilo e da forma de apresentação. Escritores e oradores famosos, como Cícero e Quintiliano, discutiam amplamente sobre os ornamentos retóricos e sua importância.

4. Ornamentação

Dentro da "Rhetorica Ornamentorum", destacam-se várias figuras de linguagem que eram utilizadas para tornar o discurso mais vivo e memorável. Vamos investigar das principais figuras retóricas, comumente conhecida pela Língua Portuguesa como “Figuras de Linguagem”, entretanto, a “Rhetorica Ornamentorum Latina” cobre uma diversidade mais ampla de categorias retóricas, tais como o paralelismo (verossimilhança entre os predicados da oração), a antítese (categoria filosófica que marca presença em orações subordinadas latinas) e a símile (adição de efeito comparativo do predicado no sujeito).

5. Impacto e Relevância

A "Rhetorica Ornamentorum" não apenas influenciou a retórica clássica, mas também teve um impacto duradouro na literatura e na oratória ao longo da história. O uso de figuras de linguagem e ornamentos continuou a ser uma marca de distinção no discurso persuasivo e artístico até os dias atuais.

5.1. Referências Latinas

Para entender melhor a "Rhetorica Ornamentorum", é importante recorrer às obras originais dos autores clássicos latinos que exploraram e aplicaram essas técnicas em suas próprias produções literárias e oratórias. Alguns textos fundamentais incluem:

  1. Cícero, De Oratore e Orator

  2. Quintiliano, Institutio Oratoria

  3. Horácio, Ars Poetica

  4. Virgílio, Eneida (para exemplos práticos de ornamentação poética)

Tais textos oferecem uma visão profunda sobre como os romanos usavam e teorizavam sobre a ornamentação no discurso, fornecendo uma base sólida para o estudo da "Rhetorica Ornamentorum".

6. Contribuições dos Autores Clássicos

6.1. Contribuições de Cícero

Em suas obras como "De Oratore" e "Brutus", Cícero discutiu a importância do estilo e da ornamentação no discurso, defendendo que um discurso bem ornamentado não apenas agrada aos ouvintes, mas também os persuade de maneira mais eficaz. 

A argumentação da obra "De Oratore" apresenta que a beleza do discurso é um aspecto crucial para a sua eficácia. Ele destaca que os ornamentos, quando usados com habilidade, podem transformar um discurso simples em uma obra-prima que não só informa, mas também emociona e persuade o público. 

No diálogo “Brutus”, Cícero destaca a importância dos ornamentos retóricos na oratória, enfatizando como figuras de linguagem, como metáforas, anáforas e antíteses, enriquecem e embelezam o discurso, tornando-o mais persuasivo e memorável. Ele argumenta que a estética e a clareza são cruciais para a eficácia do discurso, pois capturam a atenção e movem emocionalmente o público. Contudo, Cícero alerta contra o excesso de ornamentação, defendendo o uso equilibrado e apropriado para aprimorar o conteúdo sem ofuscá-lo. Assim, a habilidade de utilizar ornamentos retóricos é essencial para transformar um discurso em uma experiência poderosa. A obra serve como um guia tanto para estudiosos da retórica quanto para praticantes, oferecendo uma rica análise de como os ornamentos podem transformar um discurso em uma experiência memorável.

6.2. Contribuições de Quintiliano 

Em sua "Institutio Oratoria", Quintiliano fez uma análise sistemática das figuras de linguagem e da ornamentação, classificando e exemplificando diversas técnicas que os oradores deveriam dominar. oferece uma abordagem sistemática aos ornamentos da retórica, classificando e detalhando várias figuras de linguagem e técnicas estilísticas. Ele enfatiza a importância de saber quando e como usar esses ornamentos para não comprometer a clareza e a eficácia do discurso.

"Institutio Oratoria" é uma extensa obra em 12 volumes, composta por Quintiliano no século I d.C. O tratado serve como um guia completo para a educação de um orador, abordando desde a formação inicial até o refinamento das habilidades retóricas. Quintiliano se concentra em todos os aspectos da oratória, incluindo a invenção, a disposição, a elocução, a memória e a pronunciação.

Quintiliano oferece uma análise detalhada e prática dos ornamentos da retórica, defendendo seu uso criterioso para enriquecer o discurso. Ele explora como essas figuras de linguagem e técnicas estilísticas podem contribuir para a clareza, a persuasão e a beleza do discurso, ressaltando que a habilidade de usá-las eficazmente é fundamental para a excelência oratória. A abordagem de Quintiliano aos ornamentos continua a ser uma referência importante para estudiosos e praticantes da retórica.

6.3 Contribuições de Horácio

Embora conhecido principalmente por sua poesia, em "Ars Poetica", datado do século I a.C, Horácio destacou a importância de escolher as palavras cuidadosamente e de usar ornamentos com moderação para evitar exageros que poderiam comprometer a clareza do discurso. Nele, Horácio oferece uma série de preceitos sobre a arte da poesia, abrangendo temas como a estrutura, a escolha das palavras e o estilo. 

Embora a obra se concentre principalmente na poesia, muitos dos princípios discutidos por Horácio são aplicáveis à retórica em geral, especialmente no que diz respeito ao uso de ornamentos estilísticos. Horácio reconhece a importância dos ornamentos retóricos na criação poética e oferece orientações valiosas sobre como e quando utilizá-los para maximizar o impacto literário. 

O autor inclui em suas orientações a escolha cuidadosa das palavras (Verba currentes), destacando a importância de escolher palavras que se adequem ao tom e ao tema do poema, sugerindo que a escolha precisa das palavras pode enriquecer a expressão e conferir uma beleza especial ao texto. 

Inclusive, destaca o emprego de metáfora e imagens vivas (Ut pictura poesis), ele compara a poesia à pintura, Horácio enfatiza a importância de criar imagens vívidas através de metáforas e outras figuras de linguagem. Ele acredita que essas imagens ajudam a tornar a obra mais envolvente e visualmente impactante.

Horácio alerta contra o uso excessivo de ornamentos, que pode levar à obscuridade, recomendan do moderação no uso de ornamentos (Brevis esse laboro, obscurus fio). Ele defende a moderação e a simplicidade, argumentando que a clareza deve ser uma prioridade para não sacrificar a compreensão em prol da ornamentação excessiva.

Entretanto, Horácio encoraja a variedade no uso de ornamentos, sugerindo que a riqueza e variedade de expressões e figuras de linguagem pode enriquecer o texto e manter o interesse do leitor.

Horácio argumenta que, embora os ornamentos sejam essenciais para a beleza e a eficácia da poesia e da retórica, eles devem ser usados com discernimento e parcimônia. O objetivo é aprimorar o conteúdo e a forma do texto sem sacrificar a clareza e a acessibilidade. A escolha dos ornamentos deve ser guiada pelo contexto e pelo efeito desejado, assegurando que contribuam para o impacto emocional e estético do texto.

6.4 Contribuições de Virgílio

"Eneida", escrita por Virgílio, é um épico que não apenas narra a jornada heroica de Eneias, mas também exemplifica o uso magistral de ornamentos retóricos. Virgílio utiliza uma variedade de figuras de linguagem para enriquecer o texto, conferir-lhe profundidade emocional e capturar a imaginação dos leitores.

"Eneida" é uma obra épica composta por Virgílio entre 29 e 19 a.C., que conta a saga de Eneias, um herói troiano, e suas aventuras em busca de fundar uma nova pátria que eventualmente se tornaria Roma. A obra é rica em elementos retóricos e estilísticos, que são empregados para criar uma narrativa poderosa e emotiva.

Virgílio utiliza diversos ornamentos retóricos em "Eneida" para embelezar o texto, intensificar as emoções e destacar temas e personagens importantes.

Virgílio usa metáforas para criar imagens vívidas e comunicar ideias complexas de forma mais acessível e visual. Em "Eneida", Virgílio descreve a fúria de uma tempestade como "as asas de um furacão" (Livro I, linha 84), uma metáfora que personifica o vento como uma criatura com asas, tornando a cena mais intensa e visual.

Virgílio frequentemente usa símiles para comparar cenas épicas a elementos da natureza ou da vida cotidiana. No Livro IV, ele compara a angústia de Dido ao desespero de uma caça ferida, destacando a intensidade emocional da personagem (linhas 68-73). Símiles são comparações explícitas que ajudam a criar analogias entre diferentes conceitos, tornando as descrições mais ricas.

Virgílio utiliza anáforas para destacar ações repetitivas ou sentimentos intensos, como no Livro II, onde repete "Arma, viri" (Armas, homens) para sublinhar a urgência e a repetição dos combates durante a queda de Tróia (linhas 15-18). A repetição de palavras ou frases no início de versos ou sentenças criou um efeito rítmico e ajudou a enfatizar temas importantes.

No Livro VI, Virgílio usa a aliteração em "Macte nova virtute" (Abençoado com nova virtude) para enfatizar a virtude e o renascimento (linha 664). A repetição de sons consonantais iniciais em palavras próximas cria um efeito musical e enfatiza a importância de certas passagens.

Virgílio emprega antíteses para contrastar a paz desejada por Eneias com a guerra imposta pelos destinos, criando uma tensão dramática entre os objetivos do herói e as adversidades que ele enfrenta (Livro I, linha 461). O contraste entre ideias opostas é usado para realçar diferenças e intensificar o impacto emocional da narrativa.

Em "Eneida", Virgílio personifica a Tempestade e a Sorte, dando-lhes ações e emoções humanas, como a Tempestade que "foge" e a Sorte que "sorri" ou "foge" (Livro I, linha 123). Atribuição de características humanas a seres inanimados ou conceitos abstratos é usada para animar e tornar mais tangíveis conceitos complexos.

Virgílio usa hipérbole para descrever a grandeza dos feitos de Eneias, como quando fala das "milhares de navios" que Eneias enfrenta (Livro X, linha 212), exagerando para destacar a magnitude do desafio. O exagero intencional é usado para enfatizar a grandiosidade ou a intensidade das situações.

Virgílio utiliza ornamentos retóricos para diversos propósitos, destaca-se intensificação emocional, porquê as metáforas e símiles de Virgílio aumentam a intensidade emocional das cenas, permitindo que os leitores sintam a profundidade das experiências dos personagens; realce de temas, anáforas e aliterações são usadas para reforçar temas recorrentes, como a inevitabilidade do destino e a luta entre o bem e o mal; enriquecimento estético, O uso de antíteses e personificações acrescenta uma camada estética que não só embeleza a narrativa, mas também proporciona uma leitura mais envolvente e complexa; efeito dramático, os ornamentos retóricos de Virgílio ajudam a criar uma atmosfera dramática, capturando a atenção dos leitores e tornando a história mais cativante.

Virgílio demonstra um domínio excepcional dos ornamentos retóricos, utilizando-os não apenas para adornar o texto, mas também para aprofundar a narrativa e intensificar a experiência de leitura. Ele integra esses elementos de forma tão natural que eles se tornam parte integrante da trama e da caracterização, sem jamais parecerem forçados ou excessivos.

Na "Eneida", Virgílio exemplifica o uso magistral dos ornamentos retóricos para enriquecer sua obra épica, demonstrando como as figuras de linguagem e as técnicas estilísticas podem transformar a narrativa, tornando-a mais poderosa e envolvente. Seu uso equilibrado e eficaz dos ornamentos retóricos serve como um modelo de como a retórica pode ser utilizada para melhorar a clareza, a emoção e a beleza de um texto literário.

 7. Principais Ornamentos Retóricos (Categorias) 

7.1 Metáfora (Metaphora) 

Em retórica, a metáfora é essencial para os ornamentos da retórica (Rhetorica Ornamentorum) porque permite transformar ideias abstratas em imagens vívidas, tornando o discurso mais envolvente e persuasivo. A metáfora é uma figura de linguagem que substitui um termo por outro com o qual tem uma relação de semelhança implícita, criando uma conexão imaginativa e enriquecendo a expressão. Virgílio, por exemplo, utiliza metáforas na Eneida para intensificar emoções e destacar a grandiosidade épica de sua narrativa.

Exemplo: "Tempus fugit" (O tempo voa).

7.2 Metonímia (Metonymia)

A metonímia (metonymia) substitui um termo pelo nome de outro que possui uma relação de proximidade ou contiguidade, como "coroa" para "realeza". Em Rhetorica Ornamentorum, ela é fundamental para enriquecer o discurso, permitindo referências indiretas e sofisticadas que simplificam a comunicação e intensificam o significado. Usada por autores clássicos como Virgílio na Eneida, a metonímia ajuda a criar conexões mais profundas e ressonantes entre o sujeito e o referente, destacando aspectos específicos com uma economia de palavras eficaz.

Exemplo: "Ferrum" (ferro) para se referir a espada.

7.3 Anáfora (Anaphora)

A anáfora (anaphora) é a repetição de uma palavra ou frase no início de versos ou sentenças sucessivas, criando um efeito rítmico e enfatizando ideias-chave. Em Rhetorica Ornamentorum, ela é vital para reforçar a coesão e a persuasão do discurso, tornando-o mais memorável e impactante. Virgílio, em sua Eneida, utiliza a anáfora para destacar emoções intensas e ações repetitivas, sublinhando a importância e a urgência de certos momentos narrativos e capturando a atenção do leitor.

Exemplo: "Nihil agis, nihil moliris, nihil cogitas" (Você não faz nada, não trama nada, não pensa em nada).

 7.4 Antítese (Antithesis)

A antítese (antithesis) apresenta ideias opostas em proximidade para realçar o contraste, intensificando a clareza e o impacto de um argumento. Em Rhetorica Ornamentorum, ela é essencial para destacar diferenças e conflitos, tornando o discurso mais dinâmico e persuasivo. Virgílio, na Eneida, usa a antítese para contrastar elementos como paz e guerra, enfatizando a tensão dramática e aprofundando a complexidade emocional da narrativa, enriquecendo a experiência literária do leitor.

Exemplo: "Suae quisque fortunae faber est" (Cada um é o artífice de sua própria fortuna).

7.5 Paralelismo

O paralelismo envolve o uso de estruturas gramaticais semelhantes em frases ou cláusulas sucessivas, criando harmonia e fluidez no discurso. Em Rhetorica Ornamentorum, ele é crucial para reforçar a coesão e a clareza, tornando os argumentos mais memoráveis e persuasivos. Virgílio, na Eneida, utiliza o paralelismo para dar ritmo e equilíbrio à narrativa, destacando temas e ações recorrentes, o que enriquece a estética do texto e facilita a compreensão e o impacto emocional nos leitores.

Exemplo: "Quod bonum est tibi, bonum est mihi." ("O que é bom para você, é bom para mim.")

7.6 Ironia

A ironia é uma expressão que, literalmente, significa o oposto do que é dito, frequentemente usada para criar humor ou crítica. Em Rhetorica Ornamentorum, a ironia é essencial para adicionar profundidade e complexidade ao discurso, permitindo que o orador transmita significados subjacentes e envolva o público de maneira mais sofisticada. Virgílio, na Eneida, emprega ironia para criticar de forma sutil certos comportamentos ou situações, enriquecendo a narrativa com camadas de interpretação e reflexão.

Exemplo: "Quam praeclarum diem pro tempestate!" ("Que belo dia para uma tempestade!")

7.7 Hipérbole

A hipérbole (hyperbole) é o uso de exagero para enfatizar uma ideia, tornando-a mais impactante e memorável. Em Rhetorica Ornamentorum, é fundamental para destacar características ou emoções de forma dramática e enfática, capturando a atenção do público. Virgílio, na Eneida, emprega hipérboles para realçar a grandiosidade dos feitos heroicos e a magnitude das adversidades, intensificando a experiência épica e emocional da narrativa, além de amplificar a percepção dos eventos descritos.

Exemplo: Montes aureos polliceri (Prometer montanhas de ouro).

7.8 Prosopopeia (prosopopeia)

A prosopopeia (prosopopeia) atribui características humanas a seres inanimados ou abstratos, conferindo-lhes voz e personalidade. Em Rhetorica Ornamentorum, ela é essencial para animar conceitos e objetos, tornando o discurso mais vívido e envolvente. Virgílio, na Eneida, utiliza prosopopeias para dar vida a entidades como a Tempestade e a Sorte, aprofundando a conexão emocional do leitor com a narrativa e enriquecendo a experiência literária através de uma maior personificação dos elementos descritos.

Exemplo: "Horologium me spectat et clamat: "Tempus est, tempus est!".("O relógio me olha e grita: 'Está na hora, está na hora!'")

7.9 Comparação (símile)

A símile (ou comparação) é uma figura de linguagem que estabelece uma comparação explícita entre dois elementos usando "como" ou "tal qual", facilitando a visualização e a compreensão. Em Rhetorica Ornamentorum, a símile é essencial para criar imagens vívidas e relacionar conceitos abstratos a situações concretas. Virgílio, na Eneida, usa símiles para ilustrar a bravura dos heróis e a magnitude das batalhas, enriquecendo a narrativa com analogias claras e evocativas que aprofundam a conexão emocional do leitor.

Exemplo: Fortis ut leo. (Ele é forte como um leão)

8. Pretensão do autor deste canal com a Rhetorica Ornamentorum ex Referentiis Latinis

A expressão "Rhetorica Ornamentorum ex Referentiis Latinis" refere-se ao estudo das técnicas retóricas que ornamentam ou acolchoam os argumentos,  indicando  que o estudo da retórica ornamental utiliza referentes latinos para explanar dados observáveis, o que destaca bem a integração das referências latinas no estudo da retórica ornamental, mantendo a clareza e a sofisticação da linguagem latina.

Tal abordagem é relevante para a observação de contextos comunicativos que retratam conflitos semióticos entre significantes e significados ao qual contemplaram o agravo da deterioração histórico-cultural dos símbolos culturais e civilizacionais do Ocidente desencadeados pela polarização entre ideologias mutuamente litigantes. Confrontado por tal diapasão, a pretensão deste canal de comunicação em servir-se da “Rhetorica Ornamentorum” se deve à composição de conceitos que explanem táticas de engendrar ardis utilizados para persuadir o observador à inferir certos caminhos lógicos à aderir determinados conjuntos de crenças ao qual influenciarão na tomada de decisões, em que pese não necessariamente o observador tomará benefícios de tal intento.

"Rhetorica Ornamentorum ex Referentiis Latinis" encapsula a essência da retórica ornamentada, enriquecida pela influência e pela beleza das referências latinas. É também um manifesto da habilidade humana de não apenas comunicar, mas também de encapsular as táticas de ardis que persuadem o observador à inferir determinados caminhos lógicos através do poder da linguagem ornamentada.

Ao entender como as referências latinas podem ser empregadas para encapsular argumentos persuasivos através de nomes latinos e como as estratégias e argumentos são acolchoadas através de expressões latinas que reflitam o foco de sua especificidade, os praticantes da retórica podem mergulhar com segurança em narrativas envolventes que persuadem e inspiram mudanças de perspectiva no observador, sem confundir-se com crenças ou contraste que enfatizam viesamentos ideológicos diversos ao  criarem impacto emocional para fortalecerem ancoragem ao convencimento da persuasão aveludada pela então linguagem ornamentada.

9. Considerações Finais

A "Rhetorica Ornamentorum" é uma área rica e complexa da retórica clássica que continua a influenciar a forma como percebemos e utilizamos a linguagem para persuadir e encantar. Compreender as técnicas e as teorias desenvolvidas pelos romanos oferece valiosas lições sobre o poder da linguagem e a arte da comunicação eficaz.

Embora seja utilizado para demarcar figuras de linguagem doravante à Língua Portuguesa, referentes latinos figurativos podem serem utilizado para capturar movimentação de ânimos de toda uma época, a fim de compreender quais caminhos lógicos tais animosidades querem ancorar ao sugerir seus vieses ideológicos no contexto argumentativo, o consenso de fazer a presente investigação por si só comporta um viés ideológico de quem vos escreve, ainda que tal manifestação não desqualifique o cuidado de investigar a historicidade dos méritos produzidos por cada autor investigado na presente coluna.

10. Referências Bibliográficas

CÍCERO, Marco Túlio. Brutus e A perfeição oratória - tradução de José R. Seabra Filho. Belo Horizonte: Edições Nova Acrópole, 2013

Cícero. De Oratore; Orator. Tradução de José Ribeiro dos Santos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2006.

HORÁCIO. Arte poética. Tradução [Bilingue Latim-Português] R. M. Rosado Fernandes. Lisboa: Livraria Clássica Editora, [s.d].

Quintiliano. Instituição Oratória. Tradução de M. H. da Rocha Lima. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1970.

Virgílio. Eneida. Tradução de Odorico Mendes. São Paulo: Martin Claret, 2019.


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